Você sabia que a Matemática é uma ciência humana?
Esse Guto só pode estar ficando louco. De onde tirou uma coisa dessas?

Assista ao conteúdo deste post no vídeo a seguir!

A BNCC estabeleceu oito competências específicas para a Matemática no Ensino Fundamental, que, como vimos nos posts anteriores, se traduzem em direitos de aprendizagem para os estudantes. Neste post vamos tratar da primeira competência, transcrita a seguir:

Reconhecer que a Matemática é uma ciência humana, fruto das necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, e é uma ciência viva, que contribui para solucionar problemas científicos e tecnológicos e para alicerçar descobertas e construções, inclusive com impactos no mundo do trabalho.

Percebeu? Segundo essa competência, a Matemática é uma ciência humana! A BNCC não está afirmando, obviamente, que a Matemática faz parte do campo das Ciências Humanas, como História, Geografia, Sociologia e Filosofia. Mas a Matemática é humana, sim, e o que sustenta o ponto de vista é o fato de essa ciência surgir do fruto das necessidades dos seres humanos que vivem em sociedade. E o texto vai um pouco além, afirmando que a Matemática é uma ciência viva e extremamente útil na solução de problemas científicos, tecnológicos e no alicerce de descobertas e soluções.

Sabemos que a Matemática é uma ciência autônoma, que resolve seus próprios problemas, mas aqui estamos falando da Matemática da Educação Básica, uma Matemática instrumental, elementar. Também sabemos que nem tudo o que se aprende na escola, em Matemática e em outras áreas, terá aplicação prática no cotidiano. Por exemplo, ninguém estuda álgebra só para aprender a lidar com os polinômios que encontra na rua. Que fique claro: essa parte nem sempre aplicável que é estudada diz respeito à compreensão da Matemática como uma ciência que tem uma linguagem e outras características próprias.

Mas queremos concentrar nosso olhar na Matemática aplicável: como ela é estudada nas escolas? Quais são os contextos explorados? O foco é no procedimento matemático com um fim nele próprio ou na aplicação do procedimento para a resolução de um problema/compreensão de uma realidade?

Talvez essa postagem encontrada em uma rede social tenha algo a nos dizer:

Preciso confessar que achei essa postagem interessantíssima, mas devemos ter o cuidado de não interpretá-la de forma literal. O que quero dizer com isso é que entendo perfeitamente o humor de quem fez a postagem: a pessoa está dizendo que na escola não se aprendem coisas úteis, que realmente estão presentes no cotidianos das pessoas. Como disse, não dá pra fazer uma interpretação literal, até porque Bhaskara é muito importante. O problema é que, em boa parte das vezes, o conteúdo de matemática é exposto como um fim em si próprio, mesmo nas situações em que ele é perfeitamente aplicável. Aí, de fato, as chances do conjunto ser desinteressante e sem significado são grandiosas.

Vamos a um exemplo: todo mundo estuda porcentagem e regra de três na escola, e são conteúdos relativamente fáceis. Porém, os contextos em que esses assuntos são explorados, muitas vezes ficam restritos aos propostos pelos livros didáticos. Estou falando daqueles “problemas” clássicos, que aparecem nos livros desde a nossa época.

Matemática tem aplicação em culinária? Claro que sim! O que dizer das proporções dos ingredientes nas receitas? Mas, infelizmente, os preparos de muitos pratos deliciosos ficam restritos aos procedimentos caderninhos de receitas.  tudo fica no papel. Por que não uma aula prática com elaboração de receitas gastronômicas explorando a proporcionalidade?

Existe um modelo matemático muito bem desenhado, baseado na proporcionalidade, que é fundamental para a compreensão do mecanismo de cobrança do imposto de renda. Dá para trabalhar isso na escola em aulas de Matemática? Com certeza, e sabemos que a compreensão desse modelo matemático é extremamente útil e relevante, porém, grande parte das pessoas, mesmo as que pagam imposto de renda, não possuem sequer a ideia da existência da tabela.

E os impostos nas transações de compra e venda de imóveis? A Matemática também está presente ali. Aliás, não só ali, pois poderíamos elencar diversos outros contextos que podem ser explorados na prática, atrelados ao planejamento escolar e ao desenvolvimento do conteúdo matemático. Mas esses contextos, muitas e muitas vezes, não são explorados.

Não dá para dizer que sei qual é a causa disso. E também não estou culpando os educadores por, tantas vezes, desenvolverem aulas sem prestar atenção a possíveis aplicações em contextos reais. Mas não podemos negar que isso não ocorra. E mais, como educador, estou fazendo uma autocrítica.

Levanto aqui mais um ponto de reflexão, com o qual finalizo o post:

Por que, nas aulas de Matemática, mesmo quando se exploram conteúdos que são totalmente aplicáveis no cotidiano, em boa parte das vezes a proposta de ensino não se abre para a investigação e a resolução de problemas reais? Como lidar com essa realidade e com os novos desafios propostos pela BNCC?

Na busca de respostas para essas perguntas, pode ser que nossa compreensão aumente sobre o porquê de estudantes criticarem tanto a fórmula de Bhaskara, por exemplo, a qual foi citada neste post.

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Grande abraço e bons estudos!