Compartilhe

Neste post vamos falar sobre a relação que os tímidos e introvertidos estabelecem com atividades em equipe, reuniões de brainstorming e trabalho em grupo.

Assista ao vídeo a seguir com o conteúdo deste post!

Você é uma pessoa quieta ou agitada? É tímido ou extrovertido?

Como isso afeta a vida de adultos e pode afetar a vida de estudantes?

Eu estou lendo um livro cujo título, na versão em português, é: “O poder dos quietos: Como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar.” 

É um livro grandinho, são mais de 350 páginas, mas eu fiquei muito interessado em ler por causa de um podcast que eu ouvi, no qual o apresentador estava entrevistando a autora do livro. 

Eu estou lendo a versão digital em inglês, e lá o título é “Quiet“. 

Estou lendo em inglês porque essa é uma forma que eu encontrei de continuar estudando o idioma.

A autora se chama Susan Cain e o texto que faz parte da propaganda de venda do livro na Amazon é esse aqui: 

Mude a forma como você vê o mundo. Mude a forma como você se vê. Desvende o segredo dos introvertidos. Pelo menos um terço das pessoas que conhecemos são introvertidas. Elas são aquelas que preferem escutar a falar, ler a ir a festas; que inovam e criam, mas não gostam de autopromoção; que se beneficiam trabalhando por conta própria mais do que em grupo. Embora sejam rotulados de “quietos”, é aos introvertidos que devemos muitas das grandes contribuições à sociedade.

É claro que tem uma boa jogada de marketing nesse texto, é importante considerar que a maior parte do material produzido considera os hábitos e costumes norteamericanos. 

Mas, até hoje, o dia em que estou escrevendo este post, eu já li quase metade do livro e a cada dia eu estou gostando mais.

Estou realmente me identificando muito, porque eu sou, realmente, uma pessoa quieta e introvertida. 

Naturalmente eu sou uma pessoa calada e não penso duas vezes em trocar qualquer evento social por ficar sozinho, lendo ou assistindo a uma série. 

Esse livro traz muitos relatos, histórias reais e pesquisas e hoje eu quero compartilhar uma situação que chamou muito a minha atenção e tem muitas informações relevantes. 

A técnica Brainstorming

Alex Osborn foi um publicitário nos Estados Unidos que viveu entre 1888 e 1966. Ele escreveu vários livros nas décadas de 40 e 50 e foi o inventor de uma técnica de criatividade denominada “Brainstorming”.

Em que consiste o “Brainstorming”? É uma tempestade de ideias, muito utilizada no mundo corporativo, em reuniões de equipes e os pressupostos dessa técnica são:

  1. Não julgue nem critique ideias.
  2. Não se preocupe, quanto mais “esquisita” for a ideia, melhor.
  3. Quantidade é importante. Quanto mais ideias, melhor.
  4. Baseie-se nas ideias dos membros do grupo para construir novas ideias.

Bem, não é difícil imaginar essa ideia sendo utilizada no mundo corporativo, naquelas reuniões de empresas cheias de quadros brancos, post-it, todo mundo falando e tendo ideias.

A ideia do brainstorming é que, quando não existe um ambiente para julgamentos, quando se tem isso como uma regra, as pessoas ficam mais confiantes e compartilham mais os seus pensamentos e o ambiente fica mais produtivo.

E essa é uma técnica muito utilizada, inclusive atualmente, e muita gente faz isso sem saber que se trata de um brainstorming.

O Brainstorming funciona?

Então, lá no ano de 1963, houve um dos primeiros estudos que provaram que essa técnica, na verdade, não funciona.

Eu vou contar como foi a pesquisa.

Um psicólogo da universidade de Minessota, chamado Marvin Dunnete, que faleceu em 2007 e foi um importante nome da psicologia das organizações, fez o seguinte:

Ele reuniu um grupo de 48 cientistas pesquisadores e outro grupo de 48 publicitários que trabalhavam na 3M e convidou esses caras a participarem de sessões de brainstorming.

E ele dividiu esses caras em grupos de 4 pessoas e eles recebiam problemas do tipo “quais seriam as dificuldades ou benefícios de nascer com um polegar extra”. 

E cada um deles também recebia um problema similar para o qual tinha que encontrar, também, uma solução, por meio de uma tempestade de ideias, mas aí ele tinha que fazer isso sozinho.

Enfim, havia as duas situações: brainstorming em grupo e as pessoas também trabalhavam sozinhas na solução de problemas, por meio da tempestade de ideias. 

Então  professor Marvin juntou todas as ideias e comparou aquelas produzidas em grupo e aquelas produzidas pela pessoa enquanto trabalhava sozinha.

E aí ele fez uma coisa interessante: colocou as ideias produzidas por cada indivíduo, quando ele trabalhou sozinho, junto com as ideias das outras três pessoas, quando elas também trabalharam sozinhas.

Então, para deixar bem claro, as ideias produzidas no grupo de quatro pessoas foram reunidas e, em um outro pacote, foram reunidas as ideias dos mesmos membros desse grupo, mas aí foram reunidas as ideias que eles obtiveram enquanto trabalhavam sozinhos.

E aí criou-se uma escala de qualidade das ideias que ia de 0 a 4.

O resultado foi inequívoco e mostrou o seguinte: exceto em um dos grupos de 4 pessoas, todos os homens produziram mais ideias enquanto estavam trabalhando sozinhos, em comparação com a quantidade de ideias produzidas enquanto estavam trabalhando em grupo.

E um outro resultado interessante da pesquisa: quando a gente pensa no perfil de um cientista pesquisador e de um publicitário, naturalmente os pesquisadores tendem a ser mais introvertidos do que os publicitários. 

Mas os publicitários não demonstraram uma capacidade maior que a dos cientistas ao trabalharem em grupo.

Desde então já são décadas e décadas de estudos e pesquisas e os resultados são os mesmos e surpreendem.

Alguns estudos posteriores comprovaram que quanto maior o grupo menor a performance ou seja, grupos maiores apresentam menos e piores ideias do que grupos menores. 

O Brainstorming no mundo dos negócios

Isso levou um outro psicólogo organizacional britânico, chamado Adrian Furnham, a dizer que as evidências científicas mostram que usar grupos de brainstorming nos negócios é uma insanidade.

Ele disse o seguinte:

Se você tem pessoas talentosas e motivadas, elas devem ser encorajadas a trabalhar sozinhas, quando criatividade ou eficiência são a maior prioridade.

Então, apesar de essa técnica ainda ser amplamente utilizada, inclusive nos dias atuais, porque as pessoas pensam que o grupo delas funciona muito melhor quando as pessoas trabalham juntas e as pessoas se sentem mais unidas.

Mas a realidade é que o brainstorming, após evidências científicas, não é significado de criatividade, mas sim de afeição e contato.

Mas a ciência também mostra que existem exceções: o brainstorming online, quando bem gerenciado, traz bons resultados.

Pessoas trabalham melhor em grupo online do que individualmente. E aí, quanto maior o grupo, melhor é a performance. 

E em pesquisas acadêmicas isso também ocorre, onde professores que trabalham online, de diferentes lugares, tendem a produzir pesquisas mais relevantes do que aqueles que trabalham sozinhos ou em grupos presenciais.

Um exemplo do poder da colaboração online é a Wikipedia e o sistema operacional Linux.

Eles existem porque a colaboração online existe.

Coisas que atrapalham o brainstorming

Aí o livro apresenta mais coisas interessantes. 

Normalmente, existem três coisas que atrapalham os grupos de brainstorming.

A primeira delas é: em grupo, algumas pessoas acabam se distanciando e deixando outras fazer o trabalho.

Segunda coisa: só uma pessoa pode falar de cada vez, enquanto as outras precisam ficar sentadinhas e caladinhas, ouvindo passivamente quem está com a vez da fala.

E a terceira coisa é a apreensão, porque muita gente sente medo de parecerem idiotas perante os colegas, caso digam algo “bobo”.

E, apesar de um dos pressupostos do brainstorming ser exatamente a ausência de julgamento, a verdade é que o fato da regra existir não significa de que quem tem medo de ser julgado simplesmente vai parar de sentir isso.

Porque o medo de humilhação pública é muito forte.

Com plateia X sem plateia

Houve uma situação em que dois times de basquete universitário americano precisaram jogar onze partidas sem nenhum expectador, por causa de um surto de sarampo. 

E os resultados desses times foram bem melhores nessas situações, em comparação com os jogos que tinham torcidas.

O desempenho dos jogadores, especialmente nos lances livres, em que normalmente há uma grande tensão e a torcida fica ali na cola, foi muito maior.

Em um outro estudo, o psicólogo comportamental Dan Ariely colocou 39 pessoas para resolverem quebra-cabeças de palavras, primeiro sozinhas e depois com outras pessoas assistindo.

Ele achava que os participantes teriam melhor desempenho enquanto estivessem em público, porque eles estariam mais motivados por uma torcida.

Mas eles foram pior nessa situação, em comparação com a situação em que estavam resolvendo os quebra-cabeças sozinhos.

E aí a conclusão é que não tem muito o que ser feito a respeito desse medo que a gente tem de ser avaliado e julgado por outros, em situações públicas. 

O ambiente pode ser o mais transparente possível, com regras claras, em que julgamentos não são permitidos, mas a coisa está longe de ser simples assim.

E alguns estudos recentes das neurociências mostram que a coisa é realmente complicada.

Os perigos da influência do grupo – parte 1

Mas antes, lá na década de 1950, quando as ideias de Osborn sobre brainstorming estavam pipocando, eram uma grande novidade, um psicólogo chamado Solomon Asch, pioneiro da psicologia social, realizou uma série de estudos, que hoje em dia se tornaram famosos.

Esses estudos foram sobre os perigos da influência do grupo. 

Ele colocou alguns estudantes, voluntários, em um grupo e deu a eles um teste visual, o teste das barras. 

Na internet você vai encontrar imagens representativas desse teste, era uma coisa muito simples.

E ele pediu que os estudantes comparassem os comprimentos desse grupo de três barras, dizendo qual era maior, qual era menor, e também pedia para eles dizerem qual das barras, desse grupo de três, tinha o mesmo comprimento de uma outra barra.

Eram perguntas simples, tanto que 95% dos estudantes responderam a todas as questões corretamente.

Mas aí ele fez uma coisa interessante: ele infiltrou, em cada grupo, um ator, que também era um era estudante, e combinou com esses atores que mostrassem confiança, mas respondessem as questões de maneira errada.

Sabe o que aconteceu? O número de estudantes que respondeu todas as questões corretas caiu para 25%, ou seja, 75% dos estudantes acabou concordando com o ator em pelo menos uma resposta errada.

Mas esse experimento acabou levantando uma outra questão: por que ocorre essa conformidade?

Será que as pessoas eram realmente influenciadas e passaram a perceber os comprimentos das barras de forma diferente por causa da pressão do grupo?

Ou elas simplesmente escolhiam seguir o grupo, mesmo sabendo que a resposta estava errada, só para não criar um climão e ficarem com a imagem fragilizada perante os outros membros do grupo?

Essa questão ficou sem resposta durante muito tempo, e a tecnologia do mapeamento cerebral ajudou a responder. 

Os perigos da influência do grupo – parte 2

Em 2005 o neurocientista Gregory Berns fez uma versão atualizada do estudo de Asch, esse que eu acabei de mencionar, o estudo das barras.

Ele recrutou 32 voluntários, homens e mulheres, de idades que iam de 19 a 41 anos.

Os voluntários participaram de um jogo no qual eram apresentadas duas figuras tridimensionais em uma tela de computador.

E aí eles tinham que decidir se a primeira figura poderia ser rotacionada de modo que encaixasse na segunda.

O experimento foi feito com as pessoas trabalhando sozinhas e também com elas trabalhando em grupos.

E, durante o experimento as pessoas tinham lá vários aparelhos ligados ao cérebro, e esse aparelhos meio que fotografavam as regiões cerebrais nos momentos exatos em que essas pessoas concordavam ou discordavam da opinião do grupo.

Vejam só os resultados desse experimento: quando as pessoas trabalharam sozinhas, elas responderam às questões de forma errada 13,8% das vezes.

Mas quando elas trabalhavam em um grupo que dava de forma unânime uma resposta errada, essas pessoas acabaram concordando com o grupo em 41% das vezes.

Mas qual foi a novidade do estudo, já que esse comportamento de conformidade já havia sido demonstrado lá na década de 1950?

Quando as pessoas estavam trabalhando sozinhas, o scanner cerebral mostrou atividade em regiões do cérebro associadas à percepção visual e espacial.

E nessas situações o scanner também mostrou atividade cerebral em uma região que é associada à tomada de decisões de forma consciente.

Porém, quando as pessoas trabalharam em grupo e concordavam com as respostas dadas erroneamente de forma unânime, o scanner mostrou uma atividade cerebral bem diferente.

Era mais ou menos assim: se as pessoas simplesmente estivessem abandonando a opinião delas, de forma consciente, para não ficarem queimadas com o grupo, o scanner detectaria atividade na região do cérebro associada à tomada de decisão de forma consciente.

Mas se a opinião das pessoas fosse realmente alterada pelo posicionamento do grupo, o scanner mostraria atividades em regiões associadas à percepção visual e espacial.

E foi exatamente o que aconteceu.

Isso mostrou que a pressão do grupo não é somente desagradável, ela é capaz de mudar o nosso ponto de vista, o nosso posicionamento diante de um problema.

Então, se o grupo tem o posicionamento “A” sobre um assunto, você, provavelmente, se tinha o posicionamento “B” ou “C”, vai mudar e passará a concordar que o “A” é o correto.

Esse estudo mostrou uma outra coisa muito interessante.

Houve momentos em que algumas pessoas se posicionaram de forma consciente contra o grupo.

Nessas horas, sabe o que aconteceu? 

O scanner cerebral detectou uma grande elevação de atividade nas amígdalas, que é associado a emoções ruins, como medo e rejeição. 

Isso prova que escolher a independência em vez de ser um “Maria vai com as outras” não é simples, é um processo dolorido.

Quando trabalhar de forma colaborativa?

Mas a autora também sustenta que a colaboração presencial, face a face, é importantíssima.

Por exemplo, a empresa Apple não existiria sem a colaboração.

A gente pode citar a colaboração entre um casal e entre pais e uma criança.

Ela cita estudos que mostram que interações face a face criam confiança de uma forma especial, que as interações online são impossíveis de criar. 

E ela finaliza essa parte, e aí eu acho que isso tem tudo a ver com as minhas percepções sobre educação, dizendo que as escolas devem desenvolver nas crianças as habilidades necessárias para o trabalho em equipe. 

Segundo ela, a aprendizagem colaborativa pode ser efetiva quando bem praticada e também com a devida moderação.

Mas também é essencial que as crianças desenvolvam habilidades de trabalho individual. 

Pois muitas pessoas, especialmente os introvertidos, precisam de um tempo extra, de privacidade extra, para que possam fazer o melhor trabalho possível.

Então, agora que a gente viu todos esses resultados de importantes estudos, eu coloco algumas questões e você refletir:

  • Você prefere trabalhar em grupos ou em pares ou individualmente?
  • Se você é uma pessoa introvertida, como você se comporta em uma situação de brainstorming? Você participa ativamente e dá as suas ideias ou você fica mais na sua?
  • Você acha certo obrigar um estudante a fazer uma atividade em dupla ou em grupo, já que ele sabe e já se posicionou que prefere trabalhar sozinho?

E aí, você gostou do assunto desse post? Eu espero que sim.

Grande abraço e bons estudos!

Gostou? Salve no Pinterest e consulte sempre que quiser!