Você já resolveu um problema matemático de maneira completamente incomum, ou seja, sem usar equações ou operações aritméticas? Já pensou em resolver um problema por meio de um texto escrito em língua portuguesa, em que os pensamentos são descritos em uma estrutura narrativa?

Assista ao conteúdo deste post no vídeo a seguir!

Neste capítulo vamos falar sobre a 6ª competência específica para a Matemática no Ensino Fundamental, definida pela BNCC.

Enfrentar situações-problema em múltiplos contextos, incluindo-se situações imaginadas, não diretamente relacionadas com o aspecto prático-utilitário, expressar suas respostas e sintetizar conclusões, utilizando diferentes registros e linguagens (gráficos, tabelas, esquemas, além de texto escrito na língua materna e outras linguagens para descrever algoritmos, como fluxogramas, e dados).

Perceba que mais uma vez aparece a resolução de problemas em múltiplos contextos. Mas aqui também surgem situações imaginadas que não necessariamente estão ligadas ao caráter utilitário.

Para que não seja retomado o velho hábito de se recorrer aos antigos exercícios de fixação dos livros didáticos, com contextos que na verdade eram pretextos, entendo que a BNCC, nessa competência, fala de desafios, como quebra-cabeças e exercícios de lógica. Educadores, coloquemos a nossa capacidade criativa em funcionamento, assim formaremos estudantes com essa mesma capacidade!

Outra coisa que chama a minha atenção é a proposição de diferentes registros e linguagens, especialmente a menção a textos escritos em língua materna e fluxogramas para descrever algoritmos. Honestamente, meus olhos brilham quando leio isso.

Lembro de uma oficina da qual participei há alguns anos, em que um dos desafios propostos era o de resolver um “problema” clássico, que envolvia galinhas e cachorros, e o objetivo era determinar a quantidade de animais que havia naquela situação. Quem é professor de Matemática já é viciado nesse tipo de problema e é só chamar a quantidade de um animal de x e a quantidade do outro animal de y (ou outras duas incógnitas quaisquer) e resolver, em segundos, um sistema de equações. Até então, nada de desafio, certo? Mas veja as instruções dadas na oficina: o problema deveria ser resolvido sem utilizar linguagem explicitamente matemática – o que também não costuma ser muito difícil para professores de Matemática, que geralmente efetuam cálculos mentais rapidamente -, era necessário escrever um texto em língua materna explicando o raciocínio utilizado para encontrar a resposta.

Lembro que essa oficina era para professores de Língua Portuguesa e Matemática e o público foi dividido em grupos mistos, com professores das duas áreas. A experiência foi muito interessante, porque os professores de LP deram um banho nos professores de Matemática na hora de escrever as resoluções. Com o texto escrito em língua materna, foi possível narrar o pensamento utilizado para encontrar a resposta. Muitos resolveram por tentativa e escreveram isso, apresentando textos muito claros e belissimamente escritos.

Essa experiência prova que a falta de domínio de certa habilidade matemática – por exemplo, não saber resolver sistemas de equações -, não é empecilho para se resolver uma gama de problemas, pois existem muitas formas de se resolver problemas, inclusive a construção de um texto.

Agora, pensemos nas aulas de Matemática. É comum muitos estudantes apresentarem alguns embaraços com o uso da linguagem algébrica, mas isso não significa que eles não sejam capazes de resolver problemas, não significa que não tenham um raciocínio maduro o suficiente para recorrer a ferramentas próprias, com as quais se sintam confortáveis em usar, para superar o desafio.

Outro ponto interessante é que o texto em língua materna, nessa situação, é a tradução de um pensamento. Para escrever o que pensamos, é necessário primeiro pensar, não é verdade? Esse tipo de desafio proporciona a abertura de debates nas aulas de Matemática, com exposição de diferentes pontos de vista e caminhos que os estudantes utilizam. Isso também abre espaço para que os estudantes aprendam uns com os outros, inclusive com os erros.

Em relação ao registro de algoritmos por meio de fluxogramas, fiquei pensando nas operações com frações. Todo professor de Matemática sabe como muitos estudantes acabam se perdendo na hora de somar frações.

Uma forma de mostrar que a gente entendeu algo é falar em voz alta, para outra pessoa, o que foi entendido, como se estivéssemos explicando a nossa linha de raciocínio. E o uso de fluxogramas fluxograma pode ser uma ferramenta interessante desse “pensar alto”. Por exemplo, deseja-se somar frações por meio do registro do cálculo. Se as frações possuem denominadores iguais, deve-se seguir um caminho. Se os denominadores forem diferentes, deve-se seguir outro caminho, que é o de obter frações equivalentes às anteriores, com denominadores iguais.

Uma coisa é o professor falar, passar as orientações no quadro, ler no livro e/ou dar exemplos para os estudantes. Muitos vão entender, não há dúvidas. Mas o registro com as próprias palavras, utilizando esquemas pessoais, é muito mais interessante, reforça a autonomia e incentiva a prática da metacognição, que, nesse contexto, evidencia-se pela capacidade do estudante de avaliar os métodos utilizados na construção do conhecimento e na apropriação dos conceitos e métodos.

Agora reflita:

Como será possível desenvolver essa competência nas aulas de Matemática? Quais são as possibilidades e os desafios?

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Grande abraço e bons estudos!