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Neste post vamos apresentar a definição de letramento financeiro segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Assista ao vídeo a seguir com o conteúdo deste post!

Você sabe o que é Letramento Financeiro?

Você sabia que o PISA, uma prova internacional que avalia o desempenho de estudantes da Educação Básica, em todo o mundo, tem uma parte com questões envolvendo Competências Financeiras?

Antes de prosseguir eu quero deixar claro que todas as informações deste post são fruto de uma pesquisa e as fontes são:

  • o Portal Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional, o Iede;
  • a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE;
  • o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o INEP, órgão vinculado ao Ministério da Educação, responsável pela aplicação do PISA no Brasil;
  • e o próprio PISA, o programa Internacional de Avaliação de Alunos.

Pois bem, o que é o Letramento Financeiro? Qual é o significado dessa competência?

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem uma definição para isso, que é o seguinte:

O conhecimento e o entendimento de conceitos de finanças e riscos e a capacidade, motivação e segurança para aplicar esse conhecimento para tomar decisões em diferentes contextos financeiros, para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos e da sociedade e para permitir a participação na vida econômica.

No ano de 2015, os estudantes brasileiros de 15 e 16 anos fizeram a prova de Letramento Financeiro. Segundo o IEDE, a prova tem duração de uma hora e é opcional. E os dados de participação do Brasil, no ano de 2015, foram os seguintes:

  • 23 141 estudantes, espalhados por todos os estados.
  • 12 073 meninas e 11 068 meninos.
  • 77,7% desses estudantes estavam matriculados no Ensino Médio.

Havia estudantes da área urbana e do interior, também.

Veja o que diz o INEP sobre o que indicam os resultados dessa prova:

Os resultados mostram até que ponto os alunos de 15 anos de idade possuem os conhecimentos financeiros e as habilidades necessárias para fazer uma transição bem-sucedida da escolaridade obrigatória para o ensino superior, o emprego ou o empreendedorismo. As finanças fazem parte da vida cotidiana de muitos jovens, uma vez que eles já são consumidores de serviços financeiros, como contas bancárias, e ganham dinheiro com pequenos empregos formais ou informais. À medida que se aproximam do fim da escolaridade obrigatória, provavelmente, enfrentarão escolhas financeiras complexas e desafiadoras, por exemplo, o aluguel de um imóvel para morar, o financiamento dos estudos no ensino superior, etc.

Vamos aos resultados obtidos pelos estudantes brasileiros nessa prova.

Resumidamente, os estudantes são classificados em cinco níveis, de acordo com o desempenho obtido.

Nos relatórios da OCDE, existe uma explicação detalhada que caracteriza os estudantes em cada nível, bem como o que eles são capazes de fazer em relação ao desenvolvimento da competência financeira.

E, pelos parâmetros da OCDE, o Nível 2 corresponde ao mínimo suficiente para se integrar na sociedade e tomar decisões que o beneficiem financeiramente. 

E, para isso, de acordo com os critérios estabelecidos pela OCDE, os estudantes precisariam obter no mínimo 400 pontos na prova.

Pois bem, o Brasil ocupou o último lugar de desempenho em competência financeira. 

A nota geral do país foi 393,5, ou seja, abaixo dos 400 considerados o mínimo suficiente pela OCDE.

Dos 23 141 estudantes brasileiros avaliados, 12 691 ficaram abaixo desse nível, ou seja, quase 55% dos estudantes.

Dos latinoamericanos, Chile e Peru ficaram com médias acima de 400 pontos.

Entre os asiáticos, e ocupando a primeira posição mundial, aparece China (das regiões de Pequim, Xangai, Jiangsu e Guangdong) e, logo após, a Rússia.

Um dado importante do estudo do IEDE, é esse aqui, que mostra a distribuição de estudantes, segundo o desempenho deles, considerando os níveis de 1 a 5.

  • Abaixo do nível 1: 5949 estudantes (26%)
  • Nível 1: 6742 estudantes (29%), essa é a maior fatia
  • Nível  2: 5720 estudantes (25%)
  • Nível 3: 3271 estudantes (14%)
  • Nível 4: 1234 estudantes (5%)
  • Nível 5: 225 estudantes (1%)

Uma informação importante: sabe quem são esses estudantes que estão com desempenho abaixo do nível 1? São aqueles com o menor nível socioeconômico e com as maiores taxas taxas de repetência escolar em todas as etapas de ensino.

E mais, desses estudantes, apenas 29,2% têm expectativa de concluir o ensino superior. Já os que possuem nota nos níveis 3, 4 ou 5, a porcentagem sobe para 81,6%.

Obviamente, existe uma relação direta entre desempenho e nível socioeconômico.

Em termos regionais, e eu acho que esse é um dado muito importante, pois pode-se estabelecer uma certa correlação entre esses dados e as diferenças sociais do nosso país:

  • Região sul: 412,2 pontos (acima do mínimo adequado, que era 400 pontos)
  • Região Centro-Oeste: 406 pontos (acima do mínimo adequado)
  • Região Sudeste: 394,3 pontos
  • Região Norte: 387,3 pontos
  • Região Nordeste: 380,8 pontos

Em relação aos estados, o estudo do IEDE destaca o Amazonas e o Ceará, que, mesmo estando em regiões com os piores desempenho, Norte e Nordeste, obtiveram notas 405,5 e 402,5, respectivamente.

Como curiosidade, o estado brasileiro com o melhor desempenho foi o Espírito Santo, com 426,8 pontos de média e o estado do Alagoas obteve o pior desempenho, com 349,5 pontos.

Mas, mesmo o Espírito Santo, tendo atingido a melhor nota no país, ele superaria apenas a nota do Peru, entre todos os países que participaram da prova.

Então não dá para ficar muito animado com esse resultado dos capixabas.

Então, considerando a média da OCDE, ou seja, a média dos países desta organização, que foi de 489 pontos, nenhum estado brasileiro chegou a esse patamar.

A OCDE dá um dado interessante, que é o seguinte: ela diz que para subir entre 30 e 40 pontos na pontuação, é necessário mais um ano de estudos.

Então é como se o Brasil, com média 393,5, estivesse cerca de 4 anos e meio atrás da China, que tem média 566 pontos.

Em relação ao desempenho por gênero, acontece uma coisa interessante, também.

As meninas foram melhores que os meninos na competência financeira. Elas obtiveram média de 397,5 pontos e eles, 389,2 pontos.

E por quê esse dado é interessante? A Educação Financeira é uma área muito próxima da Matemática.

Mas, levando em consideração só o desempenho em Matemática, acontece o contrário do que aconteceu na competência financeira.

Em matemática os meninos vão melhor. Eles ficaram com média de 385 pontos, enquanto as meninas ficaram com 369,5 pontos.

De acordo com especialistas, essa diferença, na competência financeira, pelo fato de meninas irem melhor que os meninos, tem relação com questões culturais e de criação.

Veja o que a chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do Banco central diz:

O Brasil ainda tem uma cultura familiar machista em que as meninas participam mais do dia a dia das casas. Os meninos não são tão convidados a repartir as tarefas.

E ela vai adiante:

Muitos dos programas de governos, seja de crédito ou de transferência de renda focam nas mulheres

Um dos exemplos citados por Elvira é o Bolsa Família, programa que, em 2015, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social, tinha 93% das titulares do gênero feminino.

Outra especialista, Claudia Forte, superintendente da Associação de Educação Financeira (AEF), diz o seguinte:

As meninas estão mais próximas do núcleo familiar, estão próximas da mãe quando ela escolhe as contas que vai pagar no mês, acompanham no mercado e veem a mãe observando a diferença dos preços.

E eu não vou entrar mais em muitos detalhes aqui, para não estender mais, pois essa análise detalhada está no estudo do IEDE, mas os estudantes, além de fazerem a avaliação do PISA, eles respondem a um 

E as respostas obtidas por esse questionário mostram que as meninas participam mais da vida financeira em casa do que os 

E, além disso, esse questionário também revelou que as meninas são mais controladas em relação aos gastos do que os meninos.

Outro dado interessante: estudantes com baixo desempenho, que são também os com piores níveis socioeconômicos, tendem mais a comprar coisas que querem com dinheiro que seria usado para outro fim (19,1%).

Enquanto que entre os que tiveram melhor desempenho, e que possuem maior nível socioeconômico, apenas 1% diz fazer isso.

Vejam a análise do professor Amarildo Melquiades da Silva, do curso de pós-graduação em Educação Matemática, da Universidade de Juiz de Fora:

Como o Brasil ainda não tem educação financeira como competência obrigatória nas escolas, os estudantes acabam tendo como principal referência as próprias famílias.

Basicamente, temos duas situações. Há ambientes em que as famílias têm uma certa estrutura, em que os filhos participam das discussões de orçamento. Essas crianças crescem com outra visão do uso do dinheiro.

Temos também ambientes nos quais os pais compram tudo a prestação. Temos a suspeita forte de que crianças que crescem nessas casas, mesmo que tenham dinheiro quando crescerem, tenderão a pagar em prestações.

Isso é ruim porque, às vezes, o que se paga em juros é suficiente para pagar à vista. Em uma pesquisa qualitativa constatamos que crianças de 12, 13 anos já falavam em comprar a prazo.

Pessoas acham que educação financeira é análise matemática, mas tem uma questão sentimental, que exige outro tipo de análise. Em alguns momentos, entra o fator vontade, não tenho dinheiro, mas quero determinada coisa. Preciso entender o que isso implica e lidar com a situação.

Vejam outra fala da chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do Banco do Brasil, Elvira Cruvinel:

O planejamento dos gastos é necessário e isso deve ser enfatizado quando se trabalha com educação financeira. Deve-se usar a abordagem que se trabalha mudança de comportamento, e não só acúmulo de conhecimento.

Não adianta ter muito conhecimento de matemática financeira, se na hora de comprar vai pela emoção, não planeja. As pessoas são convidadas a entrar no mercado de trabalho, empregam grande parte da vida para ganhar dinheiro, mas pouco se dedicam à qualidade dos gastos.

Não existe certo ou errado, mas o que é bom no curto, médio e longo prazo. Não é bom gastar agora e no futuro ficar sem. Levar essa discussão para a sala de aula faz com que os estudantes se tornem protagonistas das próprias vidas.

OK, o resultado dos estudantes é uma realidade e está aí. Mas, agora, as pessoas querem saber: o que fazer? Quais serão as políticas públicas?

Um relatório do INEP diz que essa avaliação de Letramento Financeiro destaca algumas sugestões gerais para os países participantes do programa. E entre essas políticas eles destacam:

  • Atender às necessidades dos alunos de baixo desempenho.
  • Enfrentar as desigualdades socioeconômicas o mais cedo possível.
  • Fornecer iguais oportunidades de aprendizagem para meninos e meninas.
  • Ajudar os alunos a aproveitar ao máximo as oportunidades de aprendizagem disponíveis na escola.
  • Envolver os pais, ao mesmo tempo que os jovens, na discussão sobre Letramento Financeiro.
  • Fornecer aos jovens oportunidades seguras para que possam aprender por meio de experiências fora da escola.
  • Avaliar o impacto das iniciativas dentro e fora da escola.

Especificamente, em relação ao Brasil, a Base Nacional Comum Curricular, BNCC, diz o seguinte, em sobre a Matemática, no Ensino Fundamental 2, na unidade temática “Números”:

Outro aspecto a ser considerado nessa unidade temática é o estudo de conceitos básicos de economia e finanças, visando à educação financeira dos alunos. Assim, podem ser discutidos assuntos como taxas de juros, inflação, aplicações financeiras (rentabilidade e liquidez de um investimento) e impostos.

Bom, como a BNCC é um documento com força de lei, temos aí mais uma política pública na realidade brasileira.

Bom, deu para entender o que é letramento financeiro e como anda a situação dos estudantes brasileiros em relação a essa competência?

Espero que sim!

Grande abraço e bons estudos!